I won’t be the poet of a decrepit world.
Nor will I sing the world of the future.
I’m bound to life, and I look at my companions.
They’re taciturn but nourish great hopes.
In their midst, I consider capacious reality.
The present is so large, let’s not stray far.
Let’s stay together and go hand in hand.
I won’t be the singer of some woman, some tale,
I won’t evoke the sights at dusk, the scene outside the window,
I won’t distribute drugs or suicide letters,
I won’t flee to the islands or be carried off by seraphim.
Time is my matter, present time, present people,
the present life.
Translation
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente
I have just two hands
And the feeling of the world,
But I am teeming with slaves,
my memories are streaming
and my body yields
at the crossroads of love.
When I get up, the sky
will be dead and plundered,
I’ll be dead myself,
my desire and the songless
swamp dead.
My comrades didn’t tell me
that a war was on
and I needed
To bring arms and food.
I feel scattered,
before the borders,
and I humbly beseech
your pardon.
When the bodies pass
I’ll remain alone
unraveling the memory
of the herald, the widow and the microscope man
who lived in the tent
and were missing
the next morning
that morning, more night than night itself.
Translation
Sentimiento do mundo
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer esse amanhecer
mais noite que a noite.